Olímpio Teles de Menezes
Graças ao fato de começar o Espiritismo pela nata social, as primeiras notícias de imprensa lhe foram favoráveis, ou pelo menos não lhe foram contrárias. (O Eco de Além-Túmulo, n° 1: "... e isso não é difícil de provar, se observa que o Espiritismo fez adeptos principalmente nas classes elevadas da sociedade".)
Quando O Livro dos Espíritos, em edição francesa, chegou à Corte, já encontrou um meio propício para sua divulgação. Além de comentários de imprensa, começaram a circular folhetos sobre a Doutrina. Em 1860, apareceram os dois primeiros livros em português: o do professor Casimir Lieutand, Os tempos são chegados, o primeiro talvez na América do Sul, e O Espiritismo na sua expressão mais simples, sem nome do tradutor, que só apareceu na terceira edição, em 1862, professor Alexandre Canu. Ao terminar o primeiro período, em 1863, o Espiritismo já era um assunto sério. O Jornal do Comércio, o maior órgão da época e o mais prestigioso, dava, em 23 de setembro, desenvolvido comentário favorável à novel Doutrina, embora pela conclusão demonstrasse que o escritor ainda não estava senhor da matéria quanto à finalidade.
O segundo período começou em 1863 com a primeira contestação de espíritas a um comentário desfavorável ao Espiritismo. Em 27 de setembro, o Diário de Bahia transcrevera um artigo do Dr. Déchambre, extraído da Gazette Médicale. Artigo debochativo e burlesco. Os Drs. Luís Olímpio Teles de Menezes, José Álvares do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos subscreveram uma réplica, publicada no dia 28 do mesmo mês. Foi esse artigo que colocou o Brasil em destaque aos olhos de Kardec, (11 Revue Spirite, vol. 8, pág. 334) e marcou, por isso, o início de uma nova fase, na qual apareceram os primeiros centros espíritas nos moldes preconizados por este (Revue Spirite, 1864), quer na Bahia, quer no Rio, em Sergipe e outros Estados. Em 1869 saiu a nossa primeira revista espírita: O Eco de Além-Túmulo,"monitor do Espiritismo no Brasil", mensário de 6x6 páginas in-oitavo sob a direção de Luís Olímpio Teles de Menezes, membro do Instituto Histórico da Bahia e taquígrafo, depois, na Câmara dos Deputados, além de publicista estimado. Assim, tivemos um meio neoespiritualista anterior a Kardec e um meio espírita contemporâneo dele.
Ao entrar o Espiritismo mundial na sua segunda época, que principiou com a morte de seu codificador, em 31 de março de 1869, não havia ainda entre nós, como quiçá em parte nenhuma, salvo Paris e América do Norte, senão esses grupos particulares, mais ou menos cultos. Já era, entretanto, crescido o número de adeptos, contados principalmente entre médicos, engenheiros, advogados, militares, professores e artistas. Bezerra de Menezes, a esse tempo, se entretinha apenas com livros religiosos. A viuvez levara-o a ler a Bíblia e esta lhe dera particular entusiasmo pela religião comentada. Como toda a gente culta, naquela grande aldeia que era a Corte ao tempo do Concílio do Vaticano, discutia e estudava religião e ouvia falar da doutrina de Allan Kardec. "Mas repelia semelhante doutrina, sem conhecê-la nem de leve, pelo temor de perturbar a tal e qual paz que me trouxera a volta à religião de meus maiores, embora com restrições". (Reformador, 15 de julho de 1892). Estas restrições eram relativas à Igreja e ao Estado. Esse período de cristalização ideológica deveria durar nele o tempo necessário para reunir sólido conhecimento em teologia. Graças a tal preparo, a sua conversão foi um mero fenômeno de recordação. Ele chegou ao Espiritismo sem o saber.